Relatos reflexivos sobre a formação docente inicial no subprojeto Mão Amiga CAPES/PIBID do Curso de Pedagogia da UNESPAR/FAFI/UV.


 WIERZBICKI, Silmara Maria[1]
email: silmara.mw@hotmail.com
Orientadora ANSAI, Rosana Beatriz[2]
email: ansairosana@yahoo.com.br
UNESPAR/FAFIUV, CAPES/PIBID, Subprojeto Mão Amiga.

1 INTRODUÇÃO

 A presente pesquisa tem início no momento em que as vivências docentes, enquanto bolsista do subprojeto Mão Amiga[3], fazem refletir sobre a fundamental importância dos estudos coletivos, dos planejamentos pedagógicos, do trabalho em sala de aula e análise de resultados no trato das dificuldades de aprendizagem apresentadas por alunos dos Anos Iniciais das escolas públicas municipais de União da Vitória/PR, verificando as contribuições para a formação docente inicial no curso de Pedagogia da UNESPAR/FAFIUV. Neste sentido, o objetivo do estudo é relatar como as vivências no âmbito do subprojeto contribuem para a formação inicial docente, evidenciando experiências e relatos do fazer docente durante o período letivo de 2012, ano que as atividades foram empreendidas no projeto. A metodologia utilizada se dá através da observação direta nos locais de atuação, pois como destaca Gil (1995, p. 104): “A observação nada mais é que o uso dos sentidos com vistas a adquirir os conhecimentos necessários para o cotidiano”.

2 DESENVOLVIMENTO

Ao se pensar em uma prática docente de qualidade é necessário uma formação inicial adequada que capacite o profissional para enfrentar as numerosas dificuldades e êxitos no fazer docente. Desta forma, como estudante do curso de Pedagogia e bolsista do projeto Mão Amiga, acredita-se que não basta apenas ter um amplo conhecimento teórico, uma vez que somente a experiência prática, como ensina Shön (2008), permite que os saberes docentes e profissionais possam ser concretizados e refletidos na interface com a teoria.

Os bolsistas pibidianos constatam que, ao estar em sala de aula acompanhando alunos com dificuldades de aprendizagem já estabelecidas, é possível saber como proceder aproveitando os momentos de trocas de saberes e de mútua aprendizagem. De outra forma, observa-se que um aluno sempre aprende com o outro e nesses momentos pode até esquecer-se dos seus problemas familiares e afetivos. Pois, como ressalta Löhr, Grün e Lhör in Miranda (org.) (2009, p.12): “Assim como o aprendizado mediado pelo grupo cria maiores oportunidades de experiências para o indivíduo, também a reabilitação na área de dificuldades de aprendizagem pode ser acelerada e enriquecida se as intervenções forem grupais”.

Dentre as inúmeras vivências docentes, relataremos a seguir uma bastante significativa e que contribuiu com as experiências e saberes docentes. Nos estudos realizados no curso de Pedagogia e nos relatos ouvidos na sala dos professores quando comecei[4] a atuar em sala de aula em um ambiente novo e consequentemente “desconhecido”, fomos alertadas sobre o perfil das turmas com afirmações, como por exemplo: “Essa turma é ruim, toma cuidado, os alunos são impossíveis!”. Ao serem encaminhadas ao projeto Mão Amiga, duas alunas do segundo ano do Ensino Fundamental referidas aqui como aluna A. e aluna E., a  professora regente nos informou que teríamos problemas com elas devido a mau comportamento. Mesmo sendo encaminhadas à pedagoga da escola, não apresentavam mudanças significativas nas aprendizagens. As famílias também não sabiam como ajudar, pois em casa relatavam que eram excelentes filhas. 

A partir da observação dos comportamentos destas duas alunas com base no Formulário de Acompanhamento das Dificuldades de Aprendizagens/FADA (elaborado pela coordenação, supervisão e equipe de gestão do Subprojeto Mão Amiga, 2012), observamos que foram destacadas várias dificuldades no desempenho escolar destas alunas na área da leitura, escrita e cálculos. Com a utilização do FADA, Oliveira in Miranda (org.) (2009, p.185), evidencia-se que: “uma atitude investigativa é fundamental para que o educador esteja atento às necessidades da criança”. A partir dessa avaliação, conforme orientações recebidas, procurei estabelecer um bom relacionamento com estas alunas nas aulas do projeto, conversando e propondo atividades lúdicas diferenciadas, tanto para elas como para os demais estudantes, no total de oito (atendidos quatro no primeiro horário e outros quatro no segundo horário).

 Durante as aulas do projeto observei que a aluna A. demonstrou um comportamento de timidez, com receio de tomar qualquer atitude, mas ao mesmo tempo realizava poucas atividades corretamente. Enquanto isso, a aluna E. apresentava um comportamento de  insatisfação com tudo e todas as atividades propostas. Uma das análises possíveis é que as dificuldades de aprendizagem destas alunas podem estar relacionadas às relações interpessoais entre professor e aluno, pois segundo Morales (2006, p.61), “a conduta do professor influi sobre a motivação e a dedicação do aluno ao aprendizado”. 

Em outro momento das aulas, percebemos que não foi necessário propor atividades pedagógicas para agradar a aluna E., mas sim adaptá-las de uma forma mais agradável sem deixar de lado os objetivos e oportunizar aprendizagens significativas para todos os nossos alunos do projeto. Essas aprendizagens acontecem por meio de atividades lúdicas que solicitavam dos nossos alunos mais movimento, atenção, percepção, e concentração, entre outros. Estas atividades lúdicas eram realizadas ao ar livre, no pátio da escola e ate mesmo em sala de aula. Todas previamente planejadas e tendo como principal finalidade a melhoria da escrita, da leitura e dos números. Desta forma se evidencia a contribuição dos jogos e brincadeiras nas aprendizagens. Para Menegatti in Miranda (org.) (2009, p. 41) "o jogo e a brincadeira precisam dar à criança oportunidades para uma expressividade harmoniosa consigo mesma, como seu meio e com os outros. Desta forma, permitir a expressividade psicomotora é dar espaço para o desenvolvimento global da criança".

Por conta disso, as aulas do projeto eram momentos descontraídos que os alunos aprendiam, sendo que as alunas A. e E. passaram a participar ativamente, demonstrando interesse, cooperando com os demais colegas e, até mesmo, se relacionando muito bem comigo, algo que anteriormente não acontecia. Assim, entendemos que “no contexto escolar, o professor é o modelo que o aluno possui. Este incorpora as características e os padrões de comportamento do professor a partir de um vínculo bem estabelecido.” (ARAÚJO in MIRANDA (org.) 2009, p. 21). Constatamos, em nossas aprendizagens docentes iniciais, que os problemas de comportamento e relacionamento interpessoal, podem interferir e prejudicar a aprendizagem e necessitam ser analisados e trabalhados de forma natural pelo professor, ou seja, levando o próprio aluno a perceber que suas atitudes não estão sendo bem aceitas no grupo. 

As aprendizagens docentes iniciais que construímos no projeto vêm de encontro às análises de Ansai (2012, p.42) que afirma: "a oportunidade das acadêmicas a prática educativa assistida, orientada e tutelada pela Coordenação do Projeto representa um experiência profissional adquirida ainda durante a formação o que certamente fará com essas acadêmicas sejam profissionais competentes e dedicadas". 

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Durante o período de acompanhamento dos alunos com dificuldades de aprendizagens do projeto Mão Amiga na escola parceira, as nossas aprendizagens dos saberes docentes foram construídas de tal forma que despertou o gosto pela docência, ao mesmo tempo que nos oportunizou descobrir os vários desafios enfrentados pelos profissionais docentes no chão da escola. A cada experiência vivenciada, constatamos o quanto é necessário “saber que ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção” como ensina Freire (2000, p. 50).  Saber que o preparo e a dedicação para o exercício competente da profissão docente são imprescindíveis, pois nem sempre nos deparamos com alunos “ideais”. Também ficou evidente em nossas aprendizagens significativas que na realidade o ensino e a aprendizagem dependem de uma mutua relação aluno/professor. Percebemos assim que o Projeto Mão Amiga CAPES/PIBID é uma grande oportunidade, permitindo aprender com as dificuldades, tanto dos alunos que necessitam de atenção redobrada, quanto nossas, acadêmicas bolsistas em formação inicial.

4 REFERÊNCIAS

ANSAI, Rosana Beatriz (org.). Formação inicial no curso de Pedagogia e a coordenação do Projeto “Mão Amiga”: reflexões sobre o aprender a fazer e a ser professor. In: Formação inicial no curso de Pedagogia: a práxis educativa lúdica no contexto de dificuldades de aprendizagem. União da Vitória PR: Gohl Graf, 2012.

ARAÚJO, Thays Barbosa Lima. Ensinar para a paz: a importância da prevenção de comportamentos agressivos no processo ensino aprendizagem. In: MIRANDA, Vera Regina (org.). Educação e aprendizagem: contribuições da Psicologia.  Curitiba: Juruá, 2009.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessário à prática educativa. São
Paulo: Paz e Terra, 2000.

GIL, Antonio Carlos. Pesquisa Social. São Paulo: Atlas, 4. ed. 1995.

LÖHR, Suzane Schimidlin, GRÜN, Taisa Borges e LHÖR, Thaise. Manejo grupal de crianças com dificuldades de aprendizagem. In: MIRANDA, Vera Regina (org.). Educação e aprendizagem: contribuições da Psicologia.  Curitiba: Juruá, 2009.

MENEGATTI, Cláudia Lúcia. Experiências psicomotoras e suas relações com a aprendizagem. In: MIRANDA, Vera Regina (org.). Educação e aprendizagem: contribuições da Psicologia.  Curitiba: Juruá, 2009.
                                         
MORALES, Pedro. Relação professor-aluno. 6. ed. São Paulo: Loyola, 2006.

OLIVEIRA, Mari Angela Calderari. Caixa de trabalho: uma contribuição da psicopedagogia para o trabalho em sala de aula. In: MIRANDA, Vera Regina (org.). Educação e aprendizagem: contribuições da Psicologia.  Curitiba: Juruá, 2009.

SCHÖN, Donald A. Educando o Profissional Reflexivo: um novo design a o ensino e a aprendizagem. Porto Alegre: Artmed, 2008.





[1] Acadêmica graduanda do terceiro ano de Pedagogia da UNESPAR/FAFIUV. Bolsista do PIBID desde 2012.
[2] Mestre em Educação, coordenadora do Subprojeto Mão Amiga. 
[3] O subprojeto Mão Amiga do curso de Pedagogia da UNESPAR/FAFIUV é parte integrante do Projeto Ações em Sociedade: observações na natureza financiado pelo Programa de Iniciação à Docência CAPES/PIBID. 
[4] O relato pessoal é indispensável para a construção desse estudo, logo a recorrência à 1ª pessoa do singular é crucial para as considerações sobre a iniciação à docência aos olhos de uma bolsista pibidiana.

Trabalho publicado no II Encontro PIBID/UNESPAR.
Educação Básica e Ensino Superior: Interrelações para a produção do conhecimento.

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